sexta-feira, 23 de julho de 2021

O Elogio ao Ócio

Coletânea de 5 trechos, para deleite de quem ainda não o leu, com alguns comentários meus.


1- Quero dizer, com toda a seriedade, que muitos males estão sendo causados ao mundo moderno pela crença na virtude do trabalho, e que o caminho para a felicidade e prosperidade está em uma diminuição organizada do trabalho.

C: Nem todo trabalho é produtivo e nem tudo que é produtivo precisa ser trabalho. E mesmo que não fosse, ninguém tem obrigação moral de adicionar nada mais do que subtrai do mundo. Ainda, viver de renda jamais seria imoral, pois é usufruto de uma produtividade anterior e discutivelmente podemos dizer que todo investimento gera riqueza.


2- O uso judicioso do lazer, devo admitir, é produto da civilização e da educação. Um homem que toda a sua vida trabalhou longas horas irá se sentir entediado se ficar ocioso de repente. Mas, sem uma quantidade adequada de lazer, a pessoa fica privada de muitas coisas boas. Não há mais nenhum motivo pelo qual a maioria da população deva sofrer tal privação, e só um ascetismo tolo faz com que continuemos a insistir no excesso de trabalho quando não há mais necessidade
C: Afinal, se o trabalho remunerado visa a remuneração, por que tantos continuam a exerce-lo mesmo sem mais precisar? 

3- Nos Estados Unidos, os homens costumam trabalhar longas horas, mesmo quando já desfrutam uma ótima situação, e ficam sinceramente indignados com a ideia do lazer para os trabalhadores, a não ser na forma do castigo cruel do desemprego
C: É incrível como a ideia de se aposentar precocemente incomoda tanta gente

4- Os prazeres das populações urbanas se tornaram fundamentalmente passivos: ver filmes, assistir a partidas de futebol, ouvir rádio e assim por diante. Isto ocorre porque as energias ativas da população estão totalmente absorvidas pelo trabalho. Se as pessoas tivessem mais lazer, voltariam a desfrutar prazeres em que participassem ativamente
C: Eis um ponto central de toda a ideologia FIRE. Há vida além do trabalho que só é possível quando não se trabalha.

5- É verdade que meu corpo precisa de horas de descanso, que procuro preencher da melhor forma, mas meu maior prazer é ver raiar o dia para poder voltar ao trabalho, que é a fonte da minha felicidade. Nunca ouvi nada do gênero saindo da boca de nenhum trabalhador.
C: rs.

4 comentários:

  1. Bom texto.
    Realmente há uma distorção que a sociedade atual criou em torno do trabalho. Óbvio que é importante trabalhar e ser uma pessoa produtiva e útil para a família e para a sociedade, mas hoje em dia confundem isso com gostar de fazer hora extra não remunerada, gostar de trabalhar sábado, domingo e feriado, sair cedo e chegar tarde, ser visto só como um custo pela empresa, etc. E ainda ficam condenando quem não quer seguir essa rotina até os 70, 80 anos.

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    1. Pois é, Mago. Acho que a vida de quem acha que quem aposenta não tem o que fazer deve ser bem triste. Cansei de ver pessoas que a vida é o trabalho. Mesmo quem ama o que faz, há uma gigante diferença em exercer um oficio por amor e por renda.

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  2. Boa noite Sisifo! Na minha opinião o nosso sistema econômico depende desse consumo desenfreado e com isso temos que ter produção desenfreada. Estamos correndo atrás do próprio rabo e em alta velocidade... Questionar esse sistema valorizando aposentadoria antecipada ou diminuição de horas trabalhadas pode gerar o desabamento do sistema e por isso o próprio sistema, através da sociedade ,condena pessoas com essa visão... Acredito que um dia o ser humano olhará para trás e pensará como podemos ter mantido um sistema desses por tanto tempo se é um sistema auto destrutivo...
    Grande abraço!

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    1. Boa noite, VVI! É uma possibilidade bem real mesmo que, se hoje tivéssemos uma mudança cultural em que não mais o trabalho seja visto como dignificado e determinante para atribuir o valor de um ser humano, teremos um colapso.

      Mas não estou bem convencido. Nem o autor do livro (isso há 50 anos). Acredito que hoje temos capacidade produtiva e tecnológica mais que suficiente para atender as demandas essenciais. Inclusive, é cada vez mais comum as gerações mais novas sejam compelidas para carreiras que focam em produção de entretenimento (Streamer, youtuber, influencer, escritor...) e não mais bens e serviços.

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